MTV BRASIL: Um fim e um recomeço


SALVE GUERREIROS DO LSH!
Como estão? Muitos de vocês assistiram uma boa música na MTV. Mas infelizmente, a emissora se despede hoje (30/09) em sinal aberto, para renascer na TV Paga na terça-feira. A MTV agora já é da Viacom. E toda essa novela foi escrita pelas mãos do LSH desde junho quando noticiamos o possível fim da MTV Brasil. O primeiro golpe foi em junho, quando foi ao ar pela última vez o "Acesso MTV", e desde então começava os últimos dias da "Eme-tê-vê" que conhecemos. Em julho, aproveitando a fase mais final, lançaram "O Último Programa do Mundo" tendo como cenário o mundo pós-apocalíptico. Depois, eles finalmente colocaram no ar a série "Overdose" e a série especial "My MTV" com ex-VJ's que passaram pela casa, como Marina Person, Zeca Camargo, Sarah Oliveira, Marcos Mion (esse eu vi), André Vasco, Marco Bianchi, Edgard Picoli, Cazé, Luiz Thunderbird, entre outros. E para promover a nova MTV convidaram até a Mãe Dinah pra fazer previsões sobre o novo canal. E quanto ao "Dia Yo! MTV"? Inicialmente previsto para agosto, ele só aconteceu no dia 19/09. Nesse dia a MTV exibiu um dia inteiro de clipes do gênero Hip-Hop, e convenhamos que o último "Yo! MTV" além de marcar a despedida da MTV em sinal aberto foi uma celebração à cultura da periferia. E agora, em 26/09 a MTV fez a última transmisão ao vivo, que foi uma verdadeira celebração à música que nunca morre.

CINCO PONTOS CRUCIAIS PARA O FIM E RENASCIMENTO
Astrid Fontenelle foi a primeira a aparecer sozinha anunciando o início das atividades da filial brasileira da Music Television em 20 de outubro de 1990, mas quem apresentou o tão falado primeiro videoclipe, “Garota de Ipanema” por Marina Lima, foi Cuca Lazarotto. Uma informação que só soube agora porque ela relembrou o momento às lágrimas no seu “My MTV”, dentro de uma série de retrospectivas que antecedem o fim do canal como o conhecemos, às vésperas de completar 23 anos de existência no país sob a gestão do grupo Abril. Em 1º de outubro de 2013, a MTV Brasil deixa de existir dessa forma e migrará para a TV por assinatura, agora sob o comando da detentora da marca nos EUA, a Viacom. Dito isso, faço aqui neste blog uma homenagem a esse fenômeno que foi parte fundamental da minha formação pessoal e cultural. Que acompanhei de novembro de 1991, quando começou a ser transmitido no Recife no prédio da Rádio Cidade FM, até agora – foram 22 dos meus 35 anos absorvendo muitas influências musicais e com desgostos quase na mesma proporção. A MTV já não era hoje fundamental como foi na minha adolescência, mas certamente foi o canal mais inovador que já tivemos em seis décadas de televisão no país. Merece toda a nossa reverência e você saberá os motivos nos cinco tópicos abaixo.
MTV Brasil tem três fases distintas: tais fases refletiram o estado das coisas na música pop e na cultura de massa do Brasil e do mundo. A primeira etapa, de 1990 a meados de 1996, foi a época da prioridade à música e das inovações de linguagem. O mundo vivenciava o grunge e o Brasil ganhava uma nova safra de bandas pop (Skank, Pato Fu, Sepultura, Nação Zumbi, Raimundos, Planet Hemp) enquanto a geração 80 começava a declinar e perder terreno para o axé e o sertanejo no maisntream. A segunda fase da MTV Brasil foi também a pior e mais longa: a fase dos VJs celebridades e da perda gradativa da falta de foco. Em 1996, entraria a VJ Sabrina Parlatore, que diferentemente da musa da geração anterior, Cuca, tinha pouco a acrescentar em carisma e apoiava-se principalmente na beleza física. Antes disso, Kurt Cobain já havia morrido, alguns dos primeiros VJs tinham saído – Thunderbird, Maria Paula, Zeca Camargo – e nos anos seguintes o rock perderia espaço lá fora também, com o crescimento da eletrônica e do hip-hop. A MTV brasileira entrou, sem sucesso, na onda de tentar disputar audiência com os grandes canais da TV aberta e entupiu sua grade com programas de auditório, game shows, reality shows, produções ruins de ficção e outras tralhas. Sabrina Parlatore abriu espaço para mais celebridades e/ou VJs desinteressados em música chegarem ao canal – Marcos Mion, Daniela Cicarelli, Adriane Galisteu, etc – enquanto os fãs da primeira fase refugiavam-se na internet para buscar música de verdade. Foi assim até 2008, quando veio a terceira fase. A emissora passou a apostar mais na vertente que mais deu certo na segunda etapa: o humor. Por conta das boas experiências com o “Rockgol” e o “Hermes e Renato”, a MTV contratou diversos humoristas em ascensão, como o grupo Os Barbixas, Tatá Werneck, Dani Calabresa e o novo Chico Anysio, o multiartista Marcelo Adnet. E ainda tentou recuperar parte da audiência musical dos primeiros anos com blocos generosos de clipes nos horários não-comerciais e alguns programas ao vivo e de entrevistas, comandados por novos VJs interessados em música, como China, Gaía Passarelli e Chuck Hipolitho. Não estava mais no seu auge, mas pelo menos parecia ter retomado o prumo.
Os VJs foram o maior patrimônio da emissora: isso já era uma verdade, mas que foi comprovada mais uma vez com as retrospectivas dos ex-VJs no “My MTV” nas últimas semanas. A MTV foi uma das melhores caçadoras de talentos da TV brasileira recente. O fato de muitos deles não terem emplacado após sair do canal não é sinal de que eram necessariamente fogo de palha, mas que conseguiram brilhar muito por conta do ambiente de liberdade criativa que a MTV Brasil lhes proporcionou, e que dificilmente encontrariam algo igual ou parecido em outros canais brasileiros. Era uma relação simbiótica: os bons VJs trouxeram vigor ao canal, e os maus VJs a ruína do mesmo. Curioso pensar ainda que o termo VJ, “video-jockey”, surgiu no começo para designar os que apresentavam clipes mas – sinal dos tempos – acabou virando sinônimo para qualquer rosto que aparecesse na emissora, mesmo quando seus programas nada tinham a ver com clipes ou música. Nos “My MTV”, os VJs de diversas fases relembraram saborosas histórias de bastidores, confessaram seu amor à antiga patroa e mostraram verdadeiras raridades do baú da emissora. Faço aqui um apelo que esses programas caiam inteiros na internet muito em breve, pois são capítulos essenciais da história da TV brasileira – a boa TV brasileira – feita no país.

A MTV foi audaciosamente onde nenhuma emissora brasileira jamais esteve: a despeito de nunca ter tido grandes êxitos comerciais, foi decididamente o canal com menos pudores para experimentar ideias e formatos. Foi a pioneira em reality shows no Brasil, com o gringo “Na Real” e a versão nacional “20 e Poucos Anos”. Foi a primeira a mostrar, em primeiro plano e sem rodeios, um casal de gays homens se beijando no “Fica Comigo”. Foi a primeira emissora aberta a exibir programação 24 horas por dia. Foi a que mais abraçou a interatividade desde os tempos pré-internet – via “Disk MTV”, “CEP”, “Teleguiado” e “Garganta e Torcicolo” – e continuou assim quando a internet prosperou, como no vespertino pop “Acesso”. Foi a que mais riu de si mesma e do lado trash da cultura pop, com o tresloucado “Piores Clipes do Mundo”. Nos intervalos dos primeiros anos, mostrava vinhetas com loucuras gráficas em torno do logotipo da emissora. Foi a pioneira em desenhos animados adultos ao importar “Liquid Television”, “Beavis & Butt-head”, “The Maxx”, “Aeon Flux” e “South Park”, além de se arriscar em produções próprias, como a “Mega Liga MTV de VJs Paladinos” e “Fudêncio e Seus Amigos”. Fez Roberto Carlos sair da zona de conforto da Globo ao gravar o “Acústico” jamais exibido. Foi a primeira a dar espaço para a cultura hip-hop brasileira com o “Yo MTV Raps”, além de abraçar outros gêneros “marginais” como o heavy metal no “Gás Total” e “Fúria Metal” e o indie rock no “Lado B”. Muito antes de Tiago Leifert ou o “CQC”, apostou na fusão do esporte com o humor com o “Rockgol”. Encerrou um de seus programas mais populares, o “Teleguiado”, tocando fogo no cenário. Abordou temas e elementos tabus em outras emissoras, como reflexões sobre a política, sexo, AIDS, palavrões e drogas. A lista é imensa e é ainda mais impressionante que tenha feito tudo isso em 23 anos enquanto emissoras brasileiras com mais de quatro décadas de vida ainda estejam na idade média da comunicação.
A MTV Brasil caiu de pé: Com a oficialização do fim da emissora em sua fase Abril, reservei os últimos meses para me despedir do canal com minha humilde audiência. Foi gratificante saber que os poucos profissionais restantes por lá, desprovidos de qualquer tipo de pressão, tenham extrapolado ainda mais a já imensa liberdade criativa da casa. O jornal-paródia “Furo” ficou ainda mais mordaz e improvisado, com constantes ironias à própria situação nebulosa da MTV. Co-produziu duas séries de ficção interessantes como o drama adulto “A Menina Sem Qualidades” e a comédia “Overdose”, na qual o talentoso cartunista Arnaldo Branco sacaneia os clichês do rock e das bandas de garagem. A três meses do apagar das luzes, ainda pôs no ar o programa mais niilista de sua história, “O Último Programa do Mundo”, cuja sinopse-manifesto define bem: “Como seria um programa de entrevistas no fim dos tempos, quando não há quem entrevistar, não há anunciantes, não há audiência, não há diretor e não há equipe? (…) Tudo com direito a acesso aos arquivos mais vergonhosos e abandonados de uma MTV em chamas”. Daniel Furlan e Juliano Enrico entrevistaram qualquer pessoa que encontravam pelos corredores, com perguntas nonsense no puro fluxo de consciência. Não chega a ser genial, mas é uma das melhores soluções custo-benefício que uma emissora no fim da vida poderia criar. E claro, tivemos aí o honroso retrospecto da emissora com os “My MTV” de vários VJS, dos mais marcantes e longevos aos de curta trajetória (quem aí lembra de Daniela Barbieri?).
BATE O MARTELO
Depois de uma briga interna que durou alguns meses, chegou-se a uma decisão de quem ficará com o arquivo da atual MTV Brasil, que encerrará suas atividades no fim do mês. Segundo a jornalista Cristina Padaglione, do jornal “O Estado de São Paulo”, o acervo irá mesmo para a Viacom, que se quiser poderá usá-lo em seu novo canal. A quantidade impressiona: são cerca de 33 mil fitas, sendo 20 mil delas só de videoclipes, além de todos os programas produzidos em toda a história do canal, versões dos especiais musicais da emissora, como “Acústico MTV” e “MTV Ao Vivo”, e outras raridades, como a primeira entrevista dos Racionais MCs na televisão, por exemplo. Zico Góes, que foi diretor de programação da MTV por 20 anos, fez um “pente fino” no acervo, a pedido da Abril e da Viacom, e comentou o porquê: “tem muita coisa gravada que não serve a ninguém, matérias datadas do jornalismo ou uma cabeça de programa gravada aqui, que serve apenas como registro histórico. Fazemos essa seleção agora, que pode ser para um documentário que, aliás, quero produzir”. Para marcar o fim de suas atividades, a MTV realizou um show no dia 26, em sua sede, no bairro do Sumaré, em São Paulo, que contou com a presença de vários ex-VJS. Isso o LSH já contou pra vocês antes, ou seja, não espere por um "Acústico MTV Sandy e Junior" na nova fase da MTV agora em TV Paga.

O futuro da MTV Brasil é duvidoso: nos últimos dias a MTV vem exibindo vinhetas estreladas pela infame Mãe Dinah, onde afirma de forma imprecisa que a emissora vai continuar na TV paga a partir de 1º de outubro, com reality shows, desenhos e coisas afins. Com essa migalha de informação, não deixa claro se a pegada musical vai voltar ou ser escanteada novamente. Mas uma entrevista da “Folha de S. Paulo” com Sofia Ioannou, diretora geral da Viacom International Media Networks Américas, sugere que a nova gestão pode começar com o pé esquerdo. Sobre o papel da música na programação, Ioannou disse sem muita convicção: “A música vai surgir em distintas facetas, mais diretamente ou como um dos elementos”. Mas a pior notícia é esta: a nova MTV planeja produzir apenas 350 horas de programação brasileira por ano, o que dá menos de uma hora por dia. Serão reality shows e sitcoms nacionais. As principais atrações internacionais vão ser dubladas em português. Essa situação se choca com uma última vinheta que o canal da Abril lançou há pouco. Nela, jovens com cabeça de televisão, com trechos de programas antigos da MTV, são agredidos por policiais em cenas parecidas com as dos protestos de 2013. No fim, a narração em off pergunta, sinistramente: “A televisão tem futuro?”. É essa a questão que a emissora que nos entreteve por 23 anos deixa em aberto ao sair de cena.

ADEUS
Hoje (30/09), a MTV vai deixar uma lacuna na TV Brasileira (caso você não tenha uma TV por Assinatura), e pra dar um tom de despedida a MTV que conhecemos, logo mais (um pouco antes da meia-noite), Cuca Lazzarotto é quem terá a honra de anunciar o último videoclipe da MTV Brasil. Da mesma maneira que entrou no ar, Astrid Fontenelle é quem vai apagar as luzes do canal revolucionário, para renascer na TV Paga. Portanto, se você foi um daqueles que acompanhou a MTV Brasil durante todo esse tempoem sinal aberto, aproveite sua última chance de ver uma TV que certamente vai deixar saudades. A menos que você tenha uma operadora de TV Paga, por que na terça-feira (no caso, amanhã) estreia a nova MTV. Que não terá a mesma essência que tinha a antiga MTV que conhecemos.
"Hoje dizemos adeus, até o dia em que nos vamos nós encontrar novamente. Enxugue estas lágrimas de tristeza e vamos nos despedir adequadamente"
Trecho da música "Yume no Kawa" (AKB48, 2012)

E ATENÇÃO
O próximo "Dúvidas Cabeça" vai falar mais sobre Sonic Lost World e o novo single do AKB48, "Heart Electric". Não deixe de conferir.

Fonte: QUADRISÔNICO

Editado no dia 2/10/13 por Threeup Mario. Motivo: Vídeo da história da MTV não está mais disponível porque a pessoa que o enviou fechou sua conta do YouTube

Comentários

Postagens mais visitadas